jueves, 12 de junio de 2008

Argentina e Índia articulam uma resistência aos esforços do Brasil para facilitar um acordo na Rodada Doha]

Assunto: Brasil
Título: 1a Argentina e Índia rejeitam concessões (Primeira Página)
Data: 12/06/2008
Crédito: Sergio Leo

Sergio Leo

Argentina e Índia articulam uma resistência aos esforços do Brasil para facilitar um acordo na Rodada Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC). O sócio no Mercosul está incomodado com a disposição dos empresários e do governo brasileiro em fazer maiores concessões, e buscou apoio dos indianos. Em conversar reservadas, os argentinos se queixam que o Brasil está se "afastando" da posição de defesa dos países em desenvolvimento, que até recentemente rejeitavam maiores avanços na derrubada de tarifas de produtos industriais.

Ontem, em Buenos Aires, o negociador argentino, Alfredo Chiaradia, e o secretário de Comércio da Índia, Gopal Pillai, divulgaram nota conjunta com fortes críticas aos textos preliminares da OMC, classificados pelo ministro brasileiro, Celso Amorim, como "uma boa base" para as negociações.


Argentina alia-se à Índia para frear concessões do Brasil na Rodada Doha

A disposição dos empresários e do governo brasileiro de fazer maiores concessões na negociação para liberalização comercial na Organização Mundial de Comércio (OMC) incomoda a Argentina. O país articula com a Índia uma resistência aos esforços do Brasil para facilitar um acordo em Genebra. Segundo se queixam os argentinos, em conversas reservadas, o Brasil está se "afastando" da posição defensiva dos países em desenvolvimento, que, até recentemente, rejeitavam maiores avanços na derrubada de tarifas de produtos industriais.

A Argentina se recusa a ampliar as ofertas já apresentadas, com o argumento de que os países desenvolvidos "desequilibram" a negociação: exigem maior redução de tarifas para bens industriais, mas relutam em aceitar quedas nas barreiras tarifárias para produtos agrícolas. No início da semana, segundo informou um integrante do governo argentino ao Valor, os argentinos já haviam decidido buscar apoio da Índia para endurecer nas negociações.

Ontem, em Buenos Aires, o negociador argentino, Alfredo Chiaradia, secretário de Comercio e Relações Econômicas Internacionais, após reunião com o secretário de Comércio da Índia, Gopal Pillai, divulgou nota dos dois países com fortes críticas aos textos preliminares do acordo da OMC, em negociação pelos diplomatas em Genebra. Os dois países dizem não aceitar o acordo nas bases em que vem sendo discutido em Genebra e acusam as propostas em debate de desconsiderar os mandatos dos negociadores e os acordos parciais assumidos até agora na chamada Rodada Doha da OMC.

"É totalmente inaceitável", diz a nota bilateral, ao referir-se às propostas de abertura do mercado para produtos industriais, no rascunho do acordo que está em discussão em Genebra. O rascunho foi classificado pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, como "uma boa base" de negociação.

Os secretários argentino e indiano, ambos com status de vice-ministros, vão mais além, na nota e "rejeitam" a proposta de vincular abertura de mercado a proteção a setores sensíveis: pelo rascunho discutido em Genebra, o país que aceitar uma redução maior nas tarifas de importação poderá incluir mais produtos em sua lista de "sensíveis", com garantias de proteção contra a concorrência estrangeira. Essa "flexibilidade" levou os empresários brasileiros e o Itamaraty a avaliar que o rascunho de Genebra traz bons avanços e permite, com pequenos ajustes, aceitar maiores reduções de tarifas de importação, abrigando, ao mesmo tempo, os produtos sensíveis à concorrência estrangeira.

Para Índia e Argentina, o atual estado das negociações está na contramão dos compromissos e mandatos dos negociadores na Rodada Doha, entre eles o princípio de tratamento diferenciado para países em desenvolvimento, que estariam desobrigados de dar total reciprocidade às concessões dos países ricos.

Os dois países são parceiros do Brasil no G-20 (que coordena as propostas dos países em desenvolvimento para comércio agrícola) e no Nama-11 (grupo dos 11 países em desenvolvimento com mais interesse em proteger seus setores industriais). Chiaradia e Pillai argumentam que o rascunho na mesa de negociação exige mais esforços de abertura de mercado dos países do Nama-11 que dos países desenvolvidos.

"É uma nota dura, estou surpresa pela manifestação da Índia", comentou Sandra Rios, da Coalizão Empresarial Brasileira. "Nossas informações eram de que a Índia estaria confortável para negociar". Para ela, a manifestação das autoridades indiana e argentina aponta em caminho distinto do esforço do Brasil, "para construir um acordo na Rodada Doha". Os argentinos argumentam que também cobram rapidez e esforço para o acordo de Doha e que foi o Brasil, não eles, quem mudou de estratégia na negociação. Eles atribuem a mudança ao esforço brasileiro de "sentar-se à mesa dos grandes".

http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe3.asp?ID_RESENHA=463653

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